Historia
Nasci de uma família de 9 filhos, o chão que pisei primeiro foi o de Magude, distrito da província de Maputo em 1961. Tive a sorte de nem ser o primeiro, nem ser o último filho dos meus pais, vantajoso porque me deu a chance de aprendizado e proteção dos mais velhos e mentoria aos mais novos. Graças a esta posição de filho do meio, os meus irmãos mais velhos influenciaram-me a gostar da arte. Aliás, o meu nome artístico Marcos P’fúka que na verdade não é nome, mas uma afirmação de compromisso de que as marcas (Marcos) do meu irmão falecido que fazia desenho e pintura ressuscitam (P’fúka) que na minha própria grafia significa acordar em xi-changana. Até agora lembro-me dos desenhos e das pinturas dos dois meus manos que faziam com guache no contraplacado e envernizavam para enfeitar a nossa palhota. Lembro-me também das minhas irmãs mais velhas como cuidavam das plantas que faziam crescer em frente a palhota que o meu pai a construiu de forma muito especial com o alto sentido do belo de modo que as clientes da minha mãe modista (costureira) que eram a “elite” da pacata vila achavam a palhota muito especial. Portanto, foi num ambiente de se cultivar e amar o belo em que tive a sorte de crescer.
Os meus estudos iniciaram na Missão São Jerónimo de Magude, escola missionaria da igreja católica. No meu tempo havia escolas oficiais para os assimilados e escolas missionarias para nos. Deste período me recordo com nostalgia não das aulas que começaram com “a, e, i, o, u” escrito na ardosia, uma espécie de tablet daqueles tempos, a escrita do professor era com giz, na ardosia de cada um e tínhamos que ir repetir as vezes indicadas, estranhamente não apagávamos, não nos descuidávamos, mesmo com 6,7 anos. Todavia, o que interessa mais nesta parte da minha historia é que acho que foi neste período que o jeito de fazer arte que tenho hoje nasceu. Fazíamos carrinhos de arame que na verdade era a reciclagem de arame, pois encontrávamos na lixeira, as rodas dos carros eram de troncos de arvores ou de latas de leite e o volante um caniço forte com um volante também de arame. Os carrinhos eram feitos de tal forma que carregavam as nossas ardosias para escola a uma distancia de cerca de dois quilometro de areal. Isto era quando íamos a escola.
A parte mais criativa era depois da escola, a brincadeira que incluía os carrinhos era acrescida de comboios feitos de latas de sardinha interligadas por um fio que fazíamos circular em sulcos na areia que faziam de linha férrea, com toda a sinalização, pois víamos na estacão ferroviária que estava perto de casa. Para alem destas brincadeiras caçávamos lagartixas com as armas por nos construídas que eram na base de caniço e borrachas das camaras de ar de bicicletas.
Depois de concluir o ensino primário, passei a viver na cidade grande cidade, Lourenço Marques (Maputo) estudando na escola Secundaria do Ciclo Preparatório anexa a General Machado na Malhangalene foi aqui que a forma clássica de fazer arte começou. Foi nesta escola que pertenci ao círculo de interesse de desenho e pintura, alem do circulo de interesse as aulas de trabalhos manuais foram marcantes para o artista que me tornei hoje.
O início da atividade artística de forma mais séria foi em 1980 no Instituto Agrário de Chimoio onde liderava o núcleo de artes plásticas. A experiência de Chimoio e o trabalho em conjunto com colegas fez com que com o meu colega M’Tapa em 1988 fizéssemos a primeira aparição publica.
Desde cedo me preocupei em fazer algo que pudesse representar a minha cultura, por isso, fui ao arquivo histórico de Moçambique procurar as melhores marcas que podiam representar a minha identidade como moçambicano de uma forma particular e, encontrei as tatuagens makonde.
A década 80 do seculo vinte foi para mim a mais produtiva das artes plásticas depois da independência, participei em várias exposições coletivas e realizei ao longo da carreia ate hoje 3 exposições individuais. Perguntarão, porém, porque em cerca de 40 anos de carreira só três aparições a solo? No meu entendimento a industria da arte ainda não podia me dar os recursos financeiros que poderiam me dar a sustentabilidade socioeconómica que desejava, por isso, tive que trabalhar por cerca de vinte anos, produzindo obras mas sem expor. Hoje, sinto que posso fazer arte sem a pressão de ter que me preocupar com as necessidades imediatas.
A minha visão artística é de contribuir com a minha obra que se baseia na tatuagem makonde para uma cultura global harmoniosa. Acredito que a arte do Sul global é tão importante como a do Norte Global e ambas, cada uma dando o seu melhor poder-se-á ter uma cultura que representa a raça humana.
Percurso
1995 - Primeiro Premio de Desenho Bienal TDM 1995
1992 - Segundo Prémio de Pintura Bienal TDM 1992
1992 - Menção Honrosa na 2ª Bienal do Museu Nacional de Artes 1992
1989 - Menção Honrosa no 1º concurso de novos talentos 1989
2018 Ilustração de um livro infantil NA ESTEIRA DAS ESTRELAS de Carlos dos Santos
2025 - EcoAwareArt - Virtual
2024 - Bienal de Peru
2022 – Tri-dimensionalidade da arte pelo ambiente
2021 – Histórias com cores e vício-inverso arteando Mia Couto
2000 – Várias na cidade de Nampula
1995 – Bienal TDM
1993 – 10+5 em apoio a CNC – Círculo Galeria de Arte
1993 – Anual Museu Nacional de Artes em Maputo
1993- Bienal TDM, Maputo
1992 – 30 anos da Universidade em Moçambique, Centro de Estudos Brasileiros
1992 – Bienal Museu Nacional de Arte II, 1992
1992 – NOVÌSSIMOS, Galeria AFRITIQUE, Maputo
1991- Grupo dos cinco –Associação Moçambicana de Fotografia
1991 – III exposição Banco de Fomento e Exterior
1991- Exposição de apoio a criança desamparada, Embaixada dos EUA em Maputo
1990 – 1ª Bienal TDM
1990 – Artistas em apoio ao VI congresso do partido Frelimo
1990 – Festival Frelimo, FACIM
1990 – Grupo dos cinco – Centro de Estudos Brasileiros
1989 – Horizonte Arte Difusão: 1º Concurso de novos talentos
1988 – Aniversário da ONP em Maputo~
1988 – M’tapa e P’fúka
1979-1981-Várias no Instituto Agrário do Chimoio
2024 – Algoritmo da descontinuação – Banco ABSA Maputo
2019 - As marcas que não devem morrer – Fundação Fernando Leite Couto
1993-DISSONÂNCIAS, Casa da Cultura do Alto Maé, Maputo
1989- “DUMBA NENGUE, um voo de nwahulwana” Banco de Moçambique, Maputo